30 julho, 2010

Notas do Enem devem ser olhadas com cautela, dizem especialistas

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Priscilla Borges, iG Brasília
Como o exame é voluntário, muitos alunos deixam de participar. Há escolas que ficam sem notas e resultados podem ocultar problemas.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou por mudanças drásticas em 2009. O número de provas aumentou, mais conteúdos são cobrados e as notas são calculadas de uma nova maneira. Mas uma característica básica ele não perdeu: o caráter voluntário. Só participa do exame, o aluno que quer. A avaliação – ao contrário do que gostariam muitos especialistas – não é obrigatória para todos os jovens que concluem o ensino médio.  


Com isso, os resultados das escolas no exame, divulgados nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), geram dúvidas e polêmicas entre escolas e especialistas. Muitos criticam os rankings elaborados a partir das notas obtidas pelos estudantes de cada colégio. Os críticos argumentam que, sem a participação de todos os alunos das escolas, é impossível avaliá-las de fato.
Wanda Engel, presidente do Instituto Unibanco, ressalta que não é contra a avaliação do ensino oferecido nas escolas públicas e particulares do País. Ela defende a criação de um teste universal e obrigatório para o ensino básico. "Na verdade, estamos falando de avaliação de escolas, utilizando um instrumento que não é para isso. O Enem é um exame para o aluno, que é voluntário. Só fazem os que almejam ir para a universidade", diz.
A especialista ressalta um problema reconhecido até pelo presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), José Augusto de Mattos Lourenço. "As escolas podem incentivar que os melhores alunos façam as provas e desestimular os piores. Com isso, ela sai bem na foto. Precisaríamos de um teste universal e obrigatório. Enquanto não tivermos isso, os resultados são aproximações, não a realidade exata", afirma Wanda.
José Augusto concorda. Segundo ele, em 2008, apenas 23% dos alunos da rede particular fizeram o exame. "Não podemos achar que o ranking diz mesmo quem são as melhores escolas. O Enem não revela isso", opina. O próprio Inep recomenda cuidado ao analisar os dados.
Além da participação voluntária, o presidente do instituto, Joaquim José Soares Neto, afirma que a amostra pequena de participantes pode tornar a média pouco representativa da realidade de algumas escolas. "A sociedade se interessa por esse dado e é obrigação do estado mostrá-los à população", justifica a divulgação do Enem por escola.

Metodologias

Observando os dados do ranking, é possível notar o número de alunos matriculados no 3º ano do ensino médio em cada escola e ainda saber quantos deles fizeram os testes. Se menos de dez alunos tiverem feito a redação, mas mais do que isso tiver respondido as provas objetivas, o Inep divulga as médias das provas objetivas, mas não há nota global disponível.
O iG elaborou o ranking apenas com as notas globais (provas objetivas e redação), para se ter uma avaliação mais completa. As escolas cuja taxa de participação – relação entre o número de matriculados no terceiro ano na escola e a quantidade de participantes no Enem – foi inferior a 2% e as escolas em que menos de dez participantes participaram do exame também estão fora da lista, pois não tiveram médias totais divulgadas. No ranking, foram consideradas somente as notas do ensino médio regular.
Neto lembra que, a partir do ano que vem, será possível comparar a evolução das escolas, por causa da nova metodologia escolhida para o Enem – a Teoria de Resposta ao Item (TRI). Segundo ele, a TRI verifica a proficiência dos candidatos de forma comparável ao longo do tempo. "A TRI permite que as notas sejam colocadas em uma escala comparável", diz. No modelo antigo, isso não era possível.

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