19 julho, 2010

Receita de sucesso das campeãs no Enem

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Priscilla Borges, iG Brasília
Para especialistas, aulas em tempo integral, valorização dos professores e avaliação sistemática são práticas diferenciais
A receita de sucesso das três escolas que obtiveram os melhores desempenhos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009, segundo elas mesmas, guarda semelhanças. Apesar de contextos regionais distintos – a primeira está em São Paulo, a segunda em Teresina (PI) e a terceira no Rio de Janeiro – os colégios desenvolvem muitas práticas comuns. Algumas delas consideradas pelos especialistas essenciais para uma boa educação. (Confira aqui o ranking completo das escolas no Enem)
O Vértice, escola da capital paulista que está no topo das melhores, o Instituto Dom Barreto, e o Colégio São Bento são privadas, oferecem poucas vagas a cada ano (no Vértice, por exemplo, são apenas 100 para todas as séries), selecionam bem os estudantes que entrarão na escola, se destacam nos resultados de muitos vestibulares. As coincidências continuam no fato de oferecem aulas em tempo integral (sete horas), valorizarem os profissionais que trabalham na escola e aplicarem inúmeras avaliações aos alunos.
Para os especialistas, os ganhos com a educação integral nessa etapa da educação básica é consenso. A coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Católica de Brasília (UCB Virtual), Olga Cristina Rocha, acredita que o tempo extra de aulas aumenta o aprendizado do adolescente. "O ensino integral faz toda a diferença se o aluno pode ter acesso, além dos conteúdos curriculares, à prática de esportes e a experiências que aumentem a cultura geral, estimulem a criatividade e o desenvolvimento de raciocínio lógico, talentos. É uma oportunidade de trabalhar o conhecimento integral do estudante", pondera.
César Callegari, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), diz que as atividades extracurriculares oferecidas na escola, integradas ao projeto político pedagógico do colégio, formam jovens mais capazes de enfrentar a realidade. "Não podemos oferecer uma única fonte de informações e conhecimento. Não podemos formar meninos prontos para os desafios do mundo de hoje, com um esquema escolar do século 19", afirma.
A valorização dos profissionais que trabalham na escola – sejam professores ou funcionários – também são reconhecidos como fundamentais por quem pesquisa e propõe mudanças na educação. As campeãs do ranking no Enem 2009 contam que incentivam a especialização dos professores, bancando cursos de mestrado e doutorado de interesse dos docentes. No Vértice, a regra também vale para os funcionários e os professores ganham, em média R$ 7 mil. No Dom Barreto, há ainda uma peculiaridade: ex-alunos professores têm preferência na contratação.
Callegari acredita que o investimento nos profissionais da educação é a chave para o sucesso do processo educacional. "Se você não tem o profissional reconhecido e estimulado, não consegue bons resultados", comenta.
Olga afirma que plano de carreira e formação continuada são fundamentais até para que o professor consiga estar preparado e engajado para oferecer educação de qualidade, conectando ferramentas novas e conhecimento.
"É muito legal contratar professores que tenham maior envolvimento com a escola. Mas como pensarmos em repetir essa boa prática nas escolas públicas se elas não têm autonomia para isso?", questiona Wanda Enge, presidente do Instituto Unibanco. Ela aproveita para criticar o ranqueamento das instituições por meio do Enem.
Avaliações recorrentes
Os coordenadores pedagógicos ou diretores dos colégios campeões ouvidos pelo iG contaram que os estudantes estão acostumados a fazer diferentes avaliações. Semanalmente, fazem provas e simulados. O que poderia ser um desgaste para o aluno, segundo elas, é solução. A explicação é simples: elas são corrigidas e discutidas com os alunos, que não acumulam dúvidas e não deixam conteúdos não-compreendidos para trás.
Wanda lembra que diferentes estudos já demonstraram que avaliações sistemáticas e retorno dos resultados aos alunos são muito eficientes para o processo de ensino e aprendizagem. "A avaliação contínua que dá ao jovem o feedback sobre o que ele precisa para ter promoção nos estudos é fundamental", garante.
Outro ponto levantado pelas escolas e apoiado pelos especialistas é a proximidade com a família. No Vértice, eles consideram a boa relação entre pais, professores, alunos e escola essencial para o sucesso dos estudantes. No Dom Barreto, os coordenadores ligam e conversam pessoalmente com os pais sobre o desempenho dos alunos.
De acordo com os coordenadores do São Bento, a evolução da maturidade e do relacionamento dos alunos com as outras pessoas da escola é feito de perto. A disciplina e o comportamento nas campeãs são valorizados também.
"A participação direta dos pais é extremamente positiva. Os pais não podem achar que escola é responsável exclusiva pela educação dos alunos. É importante que eles discutam com os colégios a educação que querem para os filhos no dia-a-dia, não em documentos", ressalta a pedagoga Olga Rocha.
Diferenças
Além das semelhanças citadas, os coordenadores das escolas top apontam o uso de recursos multimídia como corriqueiros nas salas de aulas dessas escolas e importantes para o bom desenvolvimento das aulas. Outros quesitos, no entanto, se divergem. No São Bento, o ensino religioso e a tradição (somente meninos podem estudar lá) são elencados como critérios diferenciais de qualidade de ensino.
No Vértice, o uso de apostilas adquiridas de outro sistema de ensino ao material próprio recebe elogios também. Em todas, a disputa pelas vagas é acirrada e a seleção, bem feita. No Vértice, a lista de espera por uma vaga é longa. Alguns passam por provas. Outros "experimentam" o colégio por um dia. O Dom Barreto abre apenas dez novas vagas por série a cada ano e há teste para entrar, assim como no São Bento.
Wanda Engel lembra que essa seleção explica muito os resultados dessas escolas. "Seja a seleção por testes ou socioeconômica por causa das mensalidades representam a escolha de um conjunto de crianças que, desde o pré-natal teve inúmeras oportunidades de desenvolvimento de suas potencialidades. As escolas produzem a partir do capital humano criado pelos pais", argumenta.
* Colaboraram Carolina Rocha, iG São Paulo, e Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro

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